Introdução
O conflito entre quem somos e
quem queremos ser encontra-se no âmago da luta humana. A dualidade, na verdade,
está no centro da experiência humana. A vida e a morte, o bem e o mal, a
esperança e a resignação coexistem em todas as pessoas e manifestam sua força
em todas as facetas da vida. Se sabemos o que é a coragem, é porque também
experimentamos o medo; se podemos reconhecer a honestidade, é porque já
encontramos a falsidade. No entanto, a maioria de nós nega ou ignora nossa
natureza dualista.
Caso estejamos vivendo sob a
suposição de que somos apenas de um jeito ou de outro, dentro de um espectro
limitado de características humanas, então, precisamos questionar por que,
atualmente, muitos de nós estamos insatisfeitos com a nossa vida. Por que temos
acesso a tanta sabedoria e, ainda assim, não temos a força e a coragem para
agir segundo nossas boas intenções, tomando decisões eficazes? E, mais
importante, por que continuamos a nos expressar de maneiras contrárias aos
nossos valores e a tudo aquilo em que acreditamos?
Vamos mostrar que isso ocorre
porque não examinamos nossa vida, nosso eu mais obscuro, o eu sombrio, onde
está escondido nosso poder esquecido. É ali, nesse local mais improvável, que
encontramos a chave para destrancar a força, a felicidade e a capacidade de
viver nossos sonhos.
Fomos condicionados a temer o
lado obscuro da vida, assim como o nosso. Quando nos pegamos em meio a um
pensamento sombrio ou tendo um comportamento que julgamos inaceitável, corremos
como uma marmota ao buraco no chão e nos escondemos, torcendo e rezando para
que aquilo desapareça antes de nos aventurarmos a sair novamente. Por que
fazemos isso? Porque tememos, independentemente do quanto nos esforcemos,
jamais conseguir escapar desse nosso lado. E, embora ignorar ou reprimir esse
lado sombrio seja a norma, a verdade soberana é que correr da sombra apenas
intensifica seu poder. Negá-la apenas conduz a mais dor, sofrimento, tristeza e
sujeição. Se falharmos em assumir a responsabilidade de extrair a sabedoria que
está oculta no fundo de nossa consciência, a treva assume o comando e, em vez
de sermos capazes de assumir o controle, a escuridão acaba nos controlando,
provocando o efeito sombra.
Então, o lado obscuro passa a
tomar as decisões, tirando-nos o direito a escolhas conscientes, seja quanto ao
que comemos, ao tanto que gastamos ou aos vícios a que sucumbimos. Nosso lado
sombrio nos incita a agir de forma que jamais imaginamos e a desperdiçar a
energia vital em maus hábitos e comportamentos repetitivos. A obscuridade
interior nos impede de expressar inteiramente o nosso eu, de falar nossa
verdade e viver uma vida autêntica. Somente ao abraçar a nossa dualidade é que
nos libertamos dos comportamentos que poderão potencialmente nos levar para
baixo. Se não reconhecermos integralmente quem somos, é certo que seremos
tomados de assalto pelo efeito sombra.
O efeito sombra está por toda
parte. A prova de sua disseminação pode ser vista em todos os aspectos da vida.
Lemos sobre ele on-line. Podemos vê-lo nos noticiários da TV e também em
amigos, familiares e estranhos na rua. E talvez possamos reconhecê-lo de forma
mais expressiva em nossos pensamentos, comportamentos, e senti-lo nas
interações que fazemos com os outros. Receamos que, se lançarmos luz nessa
escuridão, isso nos fará sentir uma imensa vergonha ou, até pior, nos levará a
expressar nossos piores pesadelos. Tornamo--nos temerosos quanto ao que podemos
encontrar se olharmos dentro de nós mesmos; portanto, em vez disso, escondemos
a cabeça e nos recusamos a enfrentar o lado sombrio.
Mas este livro revela uma nova
verdade — compartilhada com base em três perspectivas transformadoras: o oposto
do que tememos é, de fato, o que acontece. Em vez de vergonha, sentimos
empatia. Em vez de constrangimento, ganhamos coragem. Em vez de limitação,
experimentamos a liberdade. Mantida oculta, a sombra é uma caixa de Pandora
repleta de segredos, que tememos destruírem tudo o que amamos e gostamos.
Porém, se abrirmos a caixa, descobrimos que aquilo que está ali dentro tem o
poder de alterar radicalmente nossa vida, e de forma positiva. Sairemos da
ilusão de que nossa obscuridade nos dominará e, em vez disso, veremos o mundo
sob uma nova luz. A empatia que descobrimos por nós mesmos dará a centelha de
ignição para nossa confiança e coragem à
medida que abrirmos nosso coração a todos ao redor. O poder que desencavamos
nos ajudará a confrontar o medo que esteve nos segurando e nos incitará a
seguir adiante, rumo ao mais alto potencial. Longe de ser assustador, abraçar a
sombra nos concede uma plenitude, permite que sejamos reais, reassumindo nosso
poder, libertando nossa paixão e realizando nossos sonhos.
Este livro nasceu de um desejo
de iluminar as inúmeras dádivas da sombra. Nas páginas seguintes, cada um de
nós, autores, vai abordar o assunto a partir de nossa perspectiva singular,
como professores. Nossa intenção é fornecer um entendimento compreensivo e
multifocal de como a sombra nasce dentro de nós, como ela funciona em nossa
vida e, mais importante, o que podemos fazer para descobrirmos as dádivas de
nossa verdadeira natureza. Prometemos que, após ler este livro, você nunca mais
verá seu lado sombrio da mesma maneira.
Na primeira parte, Deepak
Chopra nos dá uma visão abrangente de nossa natureza dualista e oferece uma
receita para nos levar de volta à totalidade. Pioneiro da mente/corpo, Chopra
já transformou milhões de vidas com seus ensinamentos. Sua abordagem holística
dessa natureza divisora da sombra é, ao mesmo tempo, fundamental e iluminadora.
Na segunda parte, recorro a
quase quinze anos de magistério levando o Processo da Sombra (The Shadow
Process) mundo afora, para oferecer um exame acessível, porém profundo, do
surgimento da sombra, de seu papel na vida diária e de como podemos recuperar o
poder e a luminosidade de nossa natureza autêntica.
Na terceira parte, Marianne
Williamson toca nosso coração e nossa mente com uma investigação estimulante da
ligação entre a sombra e a alma. Professora espiritual renomada
internacionalmente, Marianne nos pega pela mão e nos conduz pelo terreno
acidentado da batalha entre o amor e o medo.
Cada um de nós chega a ele com
anos de experiência e uma esperança profunda e sincera de poder iluminar a
sombra de uma vez por todas, pois, se não nos opusermos à força da sombra e
integrarmos sua sabedoria, ela tem o potencial para continuar a lançar
destruição em nossa vida e nosso mundo. Quando falhamos em admitir nossas
vulnerabilidades e reconhecer maus comportamentos, inevitavelmente sabotamo-nos
quando estamos prestes a alguma realização pessoal ou profissional. Então, a
sombra ganha. Quando agimos motivados por uma raiva desproporcional ao falar
com os filhos, a sombra ganha. Quando traímos as pessoas amadas, a sombra
ganha. Quando nos recusamos a aceitar nossa verdadeira natureza, a sombra
ganha. Se não focamos a luz ao nosso eu mais alto, na obscuridade de nossos
impulsos humanos, a sombra ganha. Até que aceitemos tudo o que somos, o efeito
sombra terá poder para retardar nossa felicidade. Se passar sem reconhecimento,
a sombra nos impede de ser plenos, de alcançar nossos melhores planos, e nos
faz viver uma vida pela metade. Nunca houve uma época melhor para se criar um
novo léxico para iluminar a sombra e finalmente entender o que tem sido tão
difícil de ver e explicar.
O trabalho com a sombra, como
descrito neste livro, é mais que um processo psicológico ou uma brincadeira
intelectual.
É uma solução prescritiva para
problemas não resolvidos. É uma jornada transformadora que vai além de qualquer
teoria psicológica, porque considera o lado sombrio uma questão humana, uma
questão espiritual que todos nós precisamos resolver se quisermos ter uma vida
na qual nos expressemos por completo. Enfim entenderemos por que não somos
melhores nem piores que ninguém, não importam cor, experiência, orientação
sexual, aparência ou o passado. Não há ninguém no mundo que não tenha um lado
sombrio e, quando levada a sério e compreendida, a sombra pode gerar uma nova
realidade que irá alterar a forma como nos sentimos em relação a nós mesmos, ao
nosso exercício de pais, à maneira como tratamos nosso parceiro, como
interagimos com os membros de nossa comunidade e como nos engajamos com outras
nações.
Acredito que a sombra seja um
dos maiores presentes disponíveis para nós. Carl Jung a chamava de sparring, ou
"parceira de treino de boxe"; ela é a oponente dentro de nós que
expõe falhas e aguça habilidades. É a professora, o treinador, o guia que nos
apoia no descobrimento de nossa verdadeira magnificência. A sombra não é um
problema a ser resolvido ou um inimigo a ser vencido, mas um campo fértil a ser
cultivado. Quando mergulharmos as mãos em seu solo rico, descobriremos as
sementes potentes da pessoa que mais desejamos ser. Esperamos, sinceramente,
que você ingresse nessa jornada, pois sabemos o que nos espera lá dentro. Debbie
Ford. Continua...
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