Lição 19
Vamos começar esta lição estudando o seguinte texto, retirado do livro “A Revolução da Dialética”:
“A escravidão psicológica destrói
a convivência.
Depender psicologicamente de
alguém é escravidão. Se nossa maneira de pensar, sentir e obrar depende da
maneira de pensar, sentir e obrar daquelas pessoas que convivem conosco, então
estamos escravizados.
Constantemente, recebemos cartas
de muita gente desejosa de dissolver o ego, porém queixam-se da mulher, dos
filhos, do irmão, da família, do marido, do patrão, etc. Essas pessoas exigem
condições para dissolver o ego.
Querem comodidades para
aniquilar o ego, reclamam magnífica conduta daqueles que com eles convivem.
O mais gracioso de tudo isto é
que essas pobres pessoas buscam as mais variadas evasivas: querem fugir,
abandonar o lar, o trabalho, etc. - dizem que - para se realizarem a fundo.
Pobre gente... seus adorados
tormentos são seus amos. Naturalmente, essas pessoas não aprenderam a ser
livres, sua conduta depende da conduta alheia.
Se quisermos seguir a senda da
castidade e aspiramos a que primeiro a mulher seja casta, então estamos
fracassados.
Se queremos deixar de ser
bêbados, porém nos afligimos quando nos oferecem o copo, por causa daquilo que
dirão ou porque a recusa possa incomodar nossos amigos, então jamais deixaremos
de ser bêbados.
Se queremos deixar de ser
coléricos, irascíveis, iracundos, furiosos, porém como primeira condição
exigimos que aqueles que convivem conosco sejam amáveis e serenos e que nada
façam que nos irrite, estamos bem fracassados, sim, porque eles não são santos
e a qualquer momento acabarão com as nossas boas intenções.
Se queremos dissolver o ego,
precisamos ser livres.
Quem depender da conduta alheia
não poderá dissolver o ego.
Temos de ter nossa própria
conduta e não depender de ninguém.
Nossos pensamentos, sentimentos
e ações devem fluir independentemente de dentro para fora.
“As piores dificuldades nos oferecem as melhores oportunidades.”
No passado, existiram sábios
rodeados de todo tipo de comodidade; sem dificuldades de espécie alguma.
Esses sábios querendo aniquilar
o ego, tiveram de criar situações difíceis para si mesmos.
Nas situações difíceis, temos
oportunidades formidáveis para estudar nossos impulsos internos e externos,
nossos pensamentos, sentimentos, ações, nossas reações, volições, etc.
A convivência é um espelho de
corpo inteiro onde nos podemos ver tal como somos e não como aparentemente
somos.
A convivência é uma maravilha.
Se estivermos bem atentos, poderemos descobrir a cada instante nossos defeitos
mais secretos. Eles afloram, saltam fora, quando menos esperamos. Conhecemos
muitas pessoas que diziam: Eu não tenho mais ira... e a menor provocação
trovejavam e faiscavam.
Outros dizem: Eu não sinto mais
ciúmes - porém basta um sorriso do cônjuge a qualquer vizinho ou vizinha para
os seus rostos se tornarem verdes de ciúmes.
As pessoas protestam contra as
dificuldades que a convivência lhes oferece. Não querem se dar conta de que
essas dificuldades, precisamente elas, estão lhe brindando todas as
oportunidades necessárias para a dissolução do ego.
A convivência é uma escola
formidável. O livro dessa escola tem muitos tomos, o livro dessa escola é o ego.
Necessitamos ser livres de
verdade se é que realmente queremos dissolver o ego. Não é livre quem depende
da conduta alheia.
Só aquele que se faz livre de
verdade sabe o que é o amor. O escravo não sabe o que é o verdadeiro amor.
Se somos escravos do pensar, do
sentir e do fazer dos demais, nunca saberemos o que é o amor. O amor nasce em
nós quando acabamos com a escravidão psicológica. Temos de compreender profundamente e em
todos os terrenos da mente esse complicado mecanismo da escravidão psicológica.
Existem muitas formas de escravidão psicológica.
É necessário estudar-se todas
elas se é que realmente queremos dissolver o ego.
Existe escravidão psicológica
não só no interno como também no externo. Existe a escravidão íntima, a
secreta, a oculta, da qual não suspeitamos sequer remotamente.
O escravo pensa que ama quando
na verdade só está temendo. O escravo não sabe o que é o verdadeiro amor.
A mulher que teme a seu marido
pensa que o adora quando na verdade só o está temendo. O marido que teme a sua
mulher pensa que a ama quando na realidade o que acontece é que a teme.
Pode ser que tema que se vá com
outro, que seu caráter se torne azedo, que o recuse sexualmente, etc.
O trabalhador que teme ao
patrão pensa que o ama, que o respeita, que vela por seus interesses, etc.
Nenhum escravo psicológico sabe o que é amor; a escravidão psicológica é
incompatível com o amor.
Existem duas espécies de
conduta: a primeira é a que vem de fora para dentro e a segunda é a que sai de
dentro para fora.
A primeira é o resultado da
escravidão psicológica e se origina por reação.
Nos pegam e pegamos, nos
insultam e respondemos com grosserias.
O segundo tipo de conduta é
melhor, é o tipo de conduta daquele que já não é escravo, daquele que nada mais
tem que ver com o pensar, o sentir e o fazer dos demais.
Tal tipo de conduta é
independente, é conduta reta e justa. Se nos pegam, respondemos abençoando. Se
nos insultam, guardamos silêncio. Se querem nos embriagar, não bebemos ainda
que nossos amigos se aborreçam, etc.
Agora, nossos leitores
compreenderão porque a liberdade psicológica traz isso que se chama amor.”
Este texto nos fala sobre algumas
dificuldades que nós mesmos colocamos em nosso caminho, e que são um sério
obstáculo para a mudança interior:
1 - Ter um comportamento que
depende da vontade dos outros e não de nossos próprios princípios.
Ora,
se queremos mudar temos que seguir nossos princípios, fazer o que achamos ser o
correto. Porém é muito comum que algumas pessoas que vivem ao nosso redor e que
não estão interessadas em mudar a si mesmas, incomodem-se quando nós deixamos
de ser o que éramos, querem que não mudemos também, que continuemos a ser os
mesmos de antes, que voltemos a fazer as mesmas coisas.
A nós, como sempre, nos resta
escolher entre as duas conhecidas opções: Ser ou não Ser?
2 - Fugir das situações
difíceis que ocorrem em nossa vida, e que são importantes para o
autoconhecimento e a mudança interior.
Este provavelmente seja um dos
maiores obstáculos para a mudança interior. Evidentemente ninguém gosta de
passar por situações desagradáveis, no entanto são nestas situações em que
descobrimos nossos maiores defeitos, os defeitos que precisamos eliminar com
maior urgência para elevarmos nosso nível do Ser.
Se nos habituamos a fugir das
situações difíceis seremos sempre escravos psicológicos, e não poderemos
provocar em nós mesmos uma verdadeira mudança. Ante as situações desagradáveis
teremos que escolher entre enfrentar a nós mesmos ou simplesmente fugir de nós
mesmos.
Mais uma vez existem apenas
duas opções: Ser ou não Ser.
Por isso escreveu Nietzsche:
“O pior inimigo que você poderá encontrar
será sempre você mesmo”.
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